Nessa pandemia, não tem nada bem com a saúde mental das mulheres

No atual Brasil da pandemia, até uma pergunta banal como “e aí, tá tudo bem?” tem sido difícil de responder. A verdade é que bem, bem, ninguém está. Com mais de 450 mil mortes em nosso país, a tristeza está por todos os lados. E, se temos como uma das principais medidas de contenção do vírus o isolamento social, isso impactou muito a vida de tantas famílias, atingindo, principalmente, mulheres e crianças.

Pela sobrecarga em aliar trabalho remoto ou presencial com trabalho doméstico, cuidados com os filhos (inclusive o acompanhamento escolar em casa) e, ainda, idosos, deficientes e outros membros da família, as mulheres têm sofrido muito com estresse, ansiedade e exaustão. Sem poder contar com a antiga rede de apoio (creche, escola, avós etc.), o medo, o cansaço e a saudade imperam no dia a dia. Além de outras consequências ainda mais graves, como o desemprego e a fome, que têm crescido a índices assustadores, ou o aumento dos casos de violência doméstica. A taxa de desemprego entre as mulheres brasileiras foi de 16,4% no quarto trimestre de 2020, 37,8% superior à taxa de desocupação de 11,9% dos homens. Em relação às mães no mercado de trabalho, pesquisas estimam um retrocesso de cerca de 30 anos, comparável só ao início da década de 1990. Como se não fosse o bastante, mais de 125 milhões de brasileiras(os), o que representa 59,3% da população, sofrem com insegurança alimentar. 

Muitas pesquisas já foram realizadas, desde o início da pandemia até aqui, sobre como essa situação impactou a saúde mental da população. Mas o que queremos dizer quando falamos em saúde mental? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “a saúde mental é um estado de bem-estar no qual um indivíduo realiza suas próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma produtiva e é capaz de fazer contribuições à sua comunidade”. Olhando assim, é difícil dizer que nossa saúde mental não foi abalada pela pandemia, né? 

Em uma pesquisa realizada pelo IPSOS em diferentes países do mundo, 59% das mulheres disseram estar com ansiedade, depressão e/ou esgotamento. Já entre os homens, foram 46%. Além disso, 73% das ouvidas afirmaram ter medo do futuro, contra 63% do sexo masculino. Outra questão constatada pelo estudo foi a pesada carga mental, em que 46% das mulheres acreditam estar fazendo mais do que outros por pessoas fragilizadas ao redor e com a sensação de que ninguém as ajuda.

No Brasil, um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), entre maio e junho de 2020, também constatou que as mulheres foram as mais afetadas emocionalmente: 40,5% sentiram sintomas de depressão; 34,9%, de ansiedade; 37,3%, de estresse. O estudo também revelou que o sofrimento psíquico atingiu em cheio mulheres sozinhas, sem filhos e desempregadas. E outras pesquisas indicaram que mulheres grávidas, que normalmente já se sentem mais vulneráveis, estão apresentando até 25% a mais de comportamentos de ansiedade moderada a grave.

Seja na linha de frente, já que são a maioria entre os profissionais de saúde e limpeza, por exemplo, seja no trabalho remoto ou desempregadas, as mulheres sentiram com mais força os efeitos da pandemia. A falta de tempo e as demandas de atenção aos filhos, familiares ou pacientes implicaram na diminuição do tempo para si mesmas, de descanso e lazer, na sensação constante de esgotamento físico e mental, potencializando ainda mais os sentimentos de impotência e tristeza. Dessa realidade, surgiram transtornos depressivos, crises de ansiedade e, em alguns casos, distúrbios alimentares. Por isso, é fundamental procurar auxílio profissional e redes de apoio. Também é importante um olhar cuidadoso sobre a alimentação e hábitos de autocuidado, como exercício físico e meditação. 

Mais cedo ou mais tarde, seremos todas e todos vacinados e as coisas vão melhorar! Enquanto a tempestade não passa, cuidemos umas das outras para que estejamos firmes e fortes.


O Instituto de Psicologia da UFRJ está oferecendo atendimentos virtuais, entre em contato! 


Referências:

IPSOS – Pesquisa com países do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido): https://medicinasa.com.br/saude-mental-covid19/

Pesquisa no Brasil, entre maio e junho de 2020, em 26 estados brasileiros e DF: https://jornal.usp.br/ciencias/mulheres-foram-mais-afetadas-emocionalmente-pela-pandemia/

Pesquisa realizada pela UNIFESP sob mulheres grávidas: https://www.unifesp.br/reitoria/dci/releases/item/5015-pesquisa-da-unifesp-alerta-para-impactos-da-pandemia-na-saude-mental-de-gravida

Matéria: Desemprego entre as mulheres cresce mais que entre os homens

https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2021/03/10/taxa-de-desocupacao-da-mulher-e-378-maior-do-que-a-do-homem-revela-ibge.htm

Matéria: Mais de 125 milhões de brasileiros sofreram insegurança alimentar

https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/04/mais-de-125-milhoes-de-brasileiros-sofreram-inseguranca-alimentar-na-pandemia-revela-estudo.shtml#:~:text=Mais%20de%20125%20milh%C3%B5es%20de,2021%20%2D%20Equil%C3%ADbrio%20e%20Sa%C3%BAde%20%2D%20Folha

Saiba mais:

https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/04/14/covid-saude-mental-piorou-para-53percent-dos-brasileiros-sob-pandemia-aponta-pesquisa.ghtml

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