A gripe espanhola no Hospício da Praia Vermelha!

Na imagem aparecem duas fotos sobrepostas. Na foto abaixo, há uma construção com uma grande varanda e largas janelas. A segunda mostra a varanda com várias camas e doentes deitados, um ao lado do outro.  Há duas circunferências coloridas sobrepostas à foto da varanda com os doentes: amarela, com pontos de interrogação e exclamação, e verde, com o desenho de uma lupa.
Pavilhão Sigaud (1918) – para alienados tuberculosos.
Fonte: Almeida (1919, p. 406).

“Perdigotos – Que perigo!
Se estás resfriado amigo,
Não chegues perto de mim.
Sou fraco, digo o que penso.
Quando tossir use o lenço
E, também se der atchim.
Corrimãos, trincos, dinheiro
São de germes um viveiro
E o da gripe mais frequente.
Não pegá-los, impossível.
Mas há remédio infalível,
Lave as mãos constantemente.
Se da gripe quer livrar-se
Arranje um jeito e disfarce,
Evite o aperto de mão.
Mas se vexado consente,
Lave as mãos frequentemente (…)”

Fonte: Previna-se contra a gripe (s.d.), 
Fundação Biblioteca Nacional, Sessão de Obras Gerais
(GOULART, 2005, p. 132).

Imagina um hospital superlotado, onde quase todos caem gripados ao mesmo tempo – doentes, médicos, enfermeiros e guardas. Imaginou? Quem cuida de quem? Pois é, isso aconteceu no Hospício da Praia Vermelha, em 1918, durante a gripe espanhola.

A pandemia de gripe começou a pipocar por todo o mundo no início de janeiro. No Rio, ela teve seus primeiros casos confirmados em 8 de outubro de 1918. Em poucos dias, chegou a 20 mil doentes. A “espanhola” causou pânico na população, levando muitos a medidas extremas, como suicídio, fugas e autoisolamento

As autoridades de saúde não viram muito o que fazer, pois parecia impossível isolar tanta gente. Na verdade, já não havia hospitais suficientes para a população carioca, principalmente para os inúmeros tuberculosos. Faltavam hospitais, mas não conselhos contra a “espanhola”. Lavar as mãos e proceder hábitos eram indicados a todos, assim como evitar aglomerações e contatos íntimos (como beijos e apertos de mão) etc. Os mesmos conselhos eram dados para evitar a tuberculose, pois a doença não tinha ainda um remédio eficaz. Isso te lembra algo? Se você não sabe quem é o inimigo e como combatê-lo, não permita que ele se aproxime!

A pandemia atingiu o hospício de maneira assustadora, tal como ocorreu na capital. O diretor tentou isolar o mais cedo possível os alienados que iam caindo gripados, para evitar que a doença se espalhasse, mas sem muito sucesso. O recém-construído Pavilhão Sigaud (para alienados tuberculosos) foi utilizado para isolar quase todos os empregados que adoeciam. 

Mas a tentativa de isolar os doentes em enfermarias especiais não impediu que a gripe atingisse a maioria dos habitantes do hospício. Só para ter uma ideia, até 31 de outubro, dos 1.450 pacientes internados, 1.314 pegaram a gripe e mais 175 empregados. Um horror!

Poucos médicos e internos do hospício escaparam. Então, a direção acabou contando com a ajuda de mestres de oficinas, ex-doentes mentais e convalescentes. Alguns prestaram “relevantes e inesperados serviços”, conforme o relatório da Assistência a Alienados. 

Por isso, os cientistas dizem que, diante de uma ameaça desconhecida, todo cuidado é pouco!

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Referências:

Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro (Adriana da Costa Goulart, 2005). 

A onipresença do medo na influenza de 1918 (Liane Maria Bertucci, 2009).

No canto do isolamento: loucura e tuberculose no Hospício Nacional de Alienados, 1890-1930 (Monica Cristina de Moraes, 2020).


Veja:

Como a pandemia da gripe espanhola mudou o mundo – https://www.youtube.com/watch?v=f-7pc-7rmko 

CAT_ Tuberculose, uma aula de história em filme – https://www.youtube.com/watch?v=9V1hvD6K_Jk

Tuberculose, uma história por acabar – https://www.youtube.com/watch?v=iou-kjJd63A 

Diários de tuberculose – Epidemia oculta – https://www.youtube.com/watch?v=ruZj_XNKVXs


Leia:

http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=815&sid=7

https://brasilescola.uol.com.br/historiag/i-guerra-mundial-gripe-espanhola-inimigos-visiveis-invisiveis.htm

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