“Perdigotos – Que perigo!
Fonte: Previna-se contra a gripe (s.d.),
Se estás resfriado amigo,
Não chegues perto de mim.
Sou fraco, digo o que penso.
Quando tossir use o lenço
E, também se der atchim.
Corrimãos, trincos, dinheiro
São de germes um viveiro
E o da gripe mais frequente.
Não pegá-los, impossível.
Mas há remédio infalível,
Lave as mãos constantemente.
Se da gripe quer livrar-se
Arranje um jeito e disfarce,
Evite o aperto de mão.
Mas se vexado consente,
Lave as mãos frequentemente (…)”
Fundação Biblioteca Nacional, Sessão de Obras Gerais
(GOULART, 2005, p. 132).
Imagina um hospital superlotado, onde quase todos caem gripados ao mesmo tempo – doentes, médicos, enfermeiros e guardas. Imaginou? Quem cuida de quem? Pois é, isso aconteceu no Hospício da Praia Vermelha, em 1918, durante a gripe espanhola.
A pandemia de gripe começou a pipocar por todo o mundo no início de janeiro. No Rio, ela teve seus primeiros casos confirmados em 8 de outubro de 1918. Em poucos dias, chegou a 20 mil doentes. A “espanhola” causou pânico na população, levando muitos a medidas extremas, como suicídio, fugas e autoisolamento.
As autoridades de saúde não viram muito o que fazer, pois parecia impossível isolar tanta gente. Na verdade, já não havia hospitais suficientes para a população carioca, principalmente para os inúmeros tuberculosos. Faltavam hospitais, mas não conselhos contra a “espanhola”. Lavar as mãos e proceder hábitos eram indicados a todos, assim como evitar aglomerações e contatos íntimos (como beijos e apertos de mão) etc. Os mesmos conselhos eram dados para evitar a tuberculose, pois a doença não tinha ainda um remédio eficaz. Isso te lembra algo? Se você não sabe quem é o inimigo e como combatê-lo, não permita que ele se aproxime!
A pandemia atingiu o hospício de maneira assustadora, tal como ocorreu na capital. O diretor tentou isolar o mais cedo possível os alienados que iam caindo gripados, para evitar que a doença se espalhasse, mas sem muito sucesso. O recém-construído Pavilhão Sigaud (para alienados tuberculosos) foi utilizado para isolar quase todos os empregados que adoeciam.
Mas a tentativa de isolar os doentes em enfermarias especiais não impediu que a gripe atingisse a maioria dos habitantes do hospício. Só para ter uma ideia, até 31 de outubro, dos 1.450 pacientes internados, 1.314 pegaram a gripe e mais 175 empregados. Um horror!
Poucos médicos e internos do hospício escaparam. Então, a direção acabou contando com a ajuda de mestres de oficinas, ex-doentes mentais e convalescentes. Alguns prestaram “relevantes e inesperados serviços”, conforme o relatório da Assistência a Alienados.
Por isso, os cientistas dizem que, diante de uma ameaça desconhecida, todo cuidado é pouco!
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Referências:
Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro (Adriana da Costa Goulart, 2005).
A onipresença do medo na influenza de 1918 (Liane Maria Bertucci, 2009).
No canto do isolamento: loucura e tuberculose no Hospício Nacional de Alienados, 1890-1930 (Monica Cristina de Moraes, 2020).
Veja:
Como a pandemia da gripe espanhola mudou o mundo – https://www.youtube.com/watch?v=f-7pc-7rmko
CAT_ Tuberculose, uma aula de história em filme – https://www.youtube.com/watch?v=9V1hvD6K_Jk
Tuberculose, uma história por acabar – https://www.youtube.com/watch?v=iou-kjJd63A
Diários de tuberculose – Epidemia oculta – https://www.youtube.com/watch?v=ruZj_XNKVXs
Leia:
https://brasilescola.uol.com.br/historiag/i-guerra-mundial-gripe-espanhola-inimigos-visiveis-invisiveis.htm