As pacientes do Pavilhão Alaor Prata

A arte apresenta a foto de uma enfermaria com várias camas e mulheres deitadas ou sentadas e, ao fundo, duas janelas com grades. Ao lado direito da foto, uma circunferência laranja, com o desenho de um cérebro. Mais abaixo, outra foto, de uma enfermaria com duas fileiras de camas vazias, lado a lado, e quatro enfermeiras, em pé, ao longo da enfermaria, à espera das primeiras pacientes.
Primeira foto: Dormitório da Seção Esquirol. Foto: A Noite, 23/12/1930, Hemeroteca/BN.
Segunda foto:  Pavilhão Alaor Prata/Hospício Nacional de Alienados, 1926. 
Foto: Augusto Malta, Coleção Augusto Malta, MIS.

Já falamos que a Casa da Ciencia da UFRJ foi um pavilhão-enfermaria de isolamento da tuberculose do Hospício Nacional de Alienados. É curioso como os espaços edificados podem assumir diferentes funções ao longo do tempo, né!? 

Para cada função, muitas perguntas podem ser feitas. Pense! Quem foram as doentes que passaram por ali? Quantas não teriam ansiado se curar e sair do hospício? O que pensavam ou conversavam durante as inúmeras horas vividas na varanda, tomando sol e ar fresco, para recuperar a saúde? E as enfermeiras de plantão, como se sentiam passando dias e noites cuidando de alienadas tuberculosas? Os documentos históricos ajudam a responder algumas interrogações. Outras, só usando a imaginação!

De modo geral, sabemos que as enfermas isoladas passavam antes pela Seção Esquirol, onde eram assistidas as pacientes indigentes (pobres) do Hospício Nacional de Alienados. Essa seção vivia superlotada! Assim, quando aparecia alguém com tuberculose ou outra doença contagiosa, o médico do setor pedia logo sua transferência para uma das enfermarias de isolamento.

E quem eram essas doentes? As brasileiras eram predominantes, mas também era possível encontrar imigrantes portuguesas, espanholas, italianas etc. Vinham das camadas populares e trabalhavam em serviços mal remunerados, principalmente domésticos, para ajudar a sustentar a família. Estudar não era uma opção para a maioria.

Provavelmente, grande parte morava em lugares mal arejados e pouco iluminados, como cortiços ou outro tipo de habitação coletiva, sem saneamento básico. Sem falar na alimentação diária, cuja principal refeição consistia em um punhado de farinha de mandioca, feijão, arroz, carne seca e café adoçado com mascavo. Leite, carne e legumes eram um luxo para boa parcela da população carioca. Essas mulheres tinham uma vida dura, não é mesmo? 

Assim, tudo conspirava para que a tuberculose fosse se disseminando entre os mais pobres, bem como outras doenças infectocontagiosas. Enfraquecidas física e mentalmente, muitas acabavam sendo internadas no hospício da Praia Vermelha. Então, podiam facilmente contagiar outras pacientes. Por isso, para o diretor Juliano Moreira e outros médicos da época, o isolamento era tão importante. 

Que perguntas você faria para quem sobreviveu à experiência do isolamento em um hospital?

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Referências:

O problema da assistência aos insanos tuberculosos (Waldemar de Almeida, 1919). 

O Rio onde o sol não brilha: acumulação e pobreza na transição para o capitalismo (Sydney Sérgio F. Solis e Marcus Venício T. Ribeiro, 2003).

Mortalidade entre brancos e negros no Rio de Janeiro após a abolição (Thales Augusto Zamberlan Pereira, 2016).


Veja:


Leia:

https://portal.fiocruz.br/noticia/mulheres-modernistas-desafiaram-os-padroes-femininos-do-inicio-do-seculo-20

https://www.eco.unicamp.br/images/arquivos/Caderno-3-web.pdf

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