“Quem hoje atravessa aquelas salas já não tem a impressão de estar atravessando as divisões de um inferno, povoado de gritos estridentes ou lúgubres – mansão de agonia e terror.
Agora, sim! Aquilo é uma casa
(Olavo Bilac, 1905)
de caridade e ciência.”
Na verdade, além de poeta, o carioca Olavo Bilac (1865-1918) exerceu várias atividades: foi jornalista, cronista, inspetor de ensino, entre outras funções, ao longo da vida. Sua visita ao Hospício Nacional se deu a convite dos doutores Afrânio Peixoto (diretor interino) e Fernandes Figueira (médico-chefe da seção infantil), em 2 de fevereiro de 1905, pouco antes da inauguração da reforma da instituição, em 6 de abril.
Por sinal, sua obra foi incorporada à biblioteca dos enfermos, junto com as de José de Alencar, Castro Alves, Machado de Assim, José Veríssimo, mapas, dicionários e compêndios.
Bilac escreveu uma bela crônica comentando a inauguração e suas boas impressões sobre as mudanças implementadas por Juliano Moreira a partir de 1903, que foi publicada em vários jornais – Gazeta de Notícias, Jornal do Brasil, O Paiz, e Correio do Brasil.
O jornalista exaltou, então, o devaneio calmo dos loucos mais furiosos do hospício da Praia Vermelha, libertos das amarras das camisas de força – quem sabe transformadas em fogueira pelo diretor – e do ambiente sujo e opressivo de outrora. Assim escreveu:
“Antigamente não havia, naquele formoso recanto da baía de Guanabara, um hospício; havia uma Casa de Torturas, uma Penitenciária de Loucos. O que ali se inaugurou não foi apenas uma série de melhoramentos materiais; foi também, e principalmente, uma instituição moral que não existia. (…) Quem viu o Hospício, e quem o vê, não o reconhece. O que era uma vergonha, é uma glória. Aquilo já não é o que era: uma casa que não se varria habitada por gente que se não lavava… Mas o que há de mais notável na reforma do hospício é o regime de tratamento. É o que não havia até agora – e é o que me leva a dizer que não houve ali a inauguração de alguns melhoramentos, mas a inauguração de um hospital inteiramente novo. (…)” (1905).
Nesse momento, na imprensa, a exaltação do novo hospital da Praia Vermelha afirmava a positividade da ciência no tratamento da loucura/alienação e na assistência aos doentes mentais, sendo considerado, então, um marco de modernidade e civilização.
Acompanhe a história do hospício em nossos posts de segunda-feira!
Sobre Olavo Bilac:
https://www.academia.org.br/academicos/olavo-bilac/biografia
http://multirio.rio.rj.gov.br/index.php/assista/tv/8388-olavo-bilac
Sobre Juliano Moreira:
https://cenpah.wordpress.com/2010/09/16/juliano-moreira-um-psiquiatra-negro-frente-ao-racismo-cientifico/
http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/morjul.htm
Referências:
Crônicas. Gazeta de Notícias (Olavo Bilac, 1905).
El Hospicio Nacional de Alienados en la prensa de Río de Janeiro, 1903-1911 (Ana T. A. Venancio & J. R. Saiol, 1917).
Registro histórico (Olavo Bilac, in: Ensaios: subjetividade, saúde mental, sociedade, 2000).