Uma descoberta incrível para a ciência brasileira: um fóssil que pode ser uma das peças que faltavam no quebra-cabeças da evolução das aves.

É provável que você já tenha ouvido falar que os dinossauros e as aves que conhecemos atualmente possuem algum grau de parentesco na linha evolutiva, não é mesmo? Seria então a galinha prima do T-Rex? Até que seria legal, mas calma, que não é bem assim!

Cientistas de diversas áreas, como a paleontologia e a geologia, por exemplo, vêm estudando, por décadas, os fósseis e os ambientes em que estes foram encontrados, a fim de compreender como a vida foi se desenvolvendo ao longo do tempo no nosso planeta. Para isso, à medida que vão encontrando, estudando e  compreendendo mais esses fósseis, vão montando árvores genealógicas, (ou árvores filogenéticas) que funcionam como um diagrama que representa a relação evolutiva entre espécies, grupos ou organismos ao longo do tempo. E nessas árvores, ao invés de mostrar relações familiares diretas, mostram como diferentes espécies (como dinossauros e aves, por exemplo) compartilham um ancestral comum e de que forma evoluíram ao longo de milhões de anos, gerando novas espécies e diversificando-se em vários ramos.

Nesse caso em específico que começamos a conversar, os estudos mais recentes apontam que havia alguns grupo de animais que viveram no período Jurássico (o período em que viveram os dinossauros), como por exemplo os Archaeopteryx, encontrados na Alemanha, que são descritos como um dos possíveis grupos ancestrais do que conhecemos hoje como aves e, além deles, também há os Fujianvenator prodigiosus, encontrados na China. Estes, descritos a partir de fósseis encontrados nessas localidades e por suas características, apresentavam-se como potenciais aves mais primitivas, que seriam um dos pontos de ligação entre os dinos e as aves atuais.

No entanto, os e as cientistas da área notavam que ainda faltavam alguns pedaços desse quebra-cabeças complicado. As características do cérebro desses animais ainda era diferente das características do cérebro das aves modernas. Sabemos que no universo da ciência e aqui, da Paleontologia e da Geologia, a cada nova evidência, novas hipóteses surgem e aí que entra o principal ator desse texto: o belíssimo Navaornis hestiae. 

Mas, quem é ele? Ele é uma das mais espetaculares descobertas já feitas na Paleontologia de Vertebrados do Brasil (e talvez do mundo)! Um pequeno passarinho do interior de São Paulo, mas que de pequeno, só tem o tamanho mesmo, já que sua descoberta está abalando a ciência no mundo, especialmente pois fósseis oriundos do Brasil revelam aspectos únicos da evolução da vida na Terra! Incrível, não é mesmo?

Fóssil de Navaornis hestiae. Fonte: Artigo referido nesta postagem, pag.09.

Essa pecinha a mais no quebra-cabeças complicado da evolução das aves, ajuda a explicar um pouco mais sobre o desenvolvimento ao longo do tempo desses animais, especialmente da neuroanatomia, pois, o fóssil, ao ser encontrado, além de ter mantido o aspecto tridimensional, possui os indícios de como era o cérebro desta ave. Seu crânio e cérebro demonstram aspectos morfológicos que são indicativos das transformações evolutivas entre as aves mais primitivas (como por exemplo o Archaeopteryx que falamos anteriormente) e as aves atuais.

O crânio de Navaornis é bem parecido com o das aves modernas, não possui dentes e tem grandes olhos. Ele pertence a um grupo de aves já extintas, os Enantiornithes, que foram muito comuns durante o período Mesozoico, que foi a era dos dinossauros. E o que isso quer dizer? Segundo os autores do artigo, um deles, o diretor da Casa da Ciência, o professor Dr. Ismar de Souza Carvalho, do Instituto de Geologia da UFRJ, as comparações geométricas quantitativas realizadas pela equipe de cientistas que publicaram o artigo, demonstram que o Navaornis exibe uma morfologia cerebral intermediária entre o Archaeopteryx e as aves mais atuais. 

Ilustração da comparação do cérebro do Navaornis (ao centro) com o Archaeopteryx (à esq.) e o saíra-sete-cores, uma ave atual (à dir.) — Foto: Arte/Júlia d’Oliveira

E esse novo capítulo na história da Paleontologia pode ser conferido de perto no artigo intitulado “Cretaceous bird from Brazil informs the evolution of the avian skull and brain”, ou “Ave brasileira do Cretáceo informa sobre a evolução do crânio e cérebro das aves” em tradução livre, publicado no dia 30 de outubro na Nature e você pode  acessá-lo clicando AQUI. Ele está em língua inglesa. 

A seguir, confira algumas curiosidades super legais sobre esse incrível achado.

  • Navaornis hestiae é o mais novo fóssil de uma ave do Cretáceo Superior do Brasil. Foi encontrada em rochas com idades que variam entre 83,6 e 72,1 milhões de anos no interior do Estado de São Paulo, em rochas conhecidas como da Formação Adamantina. 
  • Seu nome primeiro é uma homenagem ao paleontólogo William Roberto Nava, diretor do Museu de Paleontologia de Marília, que a descobriu no município de Presidente Prudente.
  • Seu segundo nome, hestiae, foi em homenagem a deusa grega da arquitetura Héstia, filha de Cronos (o deus do tempo). Navaornis reflete a dualidade do tempo através de seu crânio. Pertence a uma linhagem arcaica de aves, apesar da geometria de seu crânio ser essencialmente semelhante ao de uma ave moderna.

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