Olá, professor(a)!
Neste mês, vem aí a Exposição Vacina!, nossa próxima exposição aqui na Casa da Ciência da UFRJ! E, para já entrarmos no clima dessa temática, na postagem de hoje vamos falar um pouco sobre a história das vacinas, sua importância e também discutir estratégias pedagógicas para abordar esse tema essencial em sala de aula.
A vacinação é fundamental para erradicar doenças e controlar a propagação de agentes patogênicos. Ao se vacinar, as pessoas reduzem suas chances de contrair doenças e protegem suas comunidades, já que muitas doenças infecciosas se espalham pelo contato ou pelo ar. Graças à vacinação, muitas doenças graves e incuráveis estão sob controle ou foram eliminadas, como a varíola, que foi erradicada em 1984 após matar cerca de 300 milhões de pessoas no século XX. Estima-se que a vacinação salva cinco milhões de vidas anualmente.
Reprodução: INCQS/FIOCRUZ
História da vacina
Idealizada pelo médico Edward Jenner, a primeira vacina surgiu no século XVIII, quando a varíola representava a maior ameaça à humanidade. Atualmente, há imunizações disponíveis para muitas outras doenças, como poliomielite, sarampo, caxumba, gripe, hepatite A e B, entre outras. Reconhecida como um dos maiores avanços científicos, a vacina é responsável por prevenir anualmente entre dois e três milhões de mortes por doenças evitáveis, segundo a Organização Mundial da Saúde.
A origem da vacinação remonta à China, no século X, onde se desenvolveu um método contra a varíola, uma doença que causava febre e pústulas, deixando cicatrizes e não tendo cura. Naquela época, os cientistas transformavam crostas de feridas de varíola em um pó contendo o vírus inativo, aplicando-o em feridas de pessoas já infectadas, um processo conhecido como variolação. Em 1796, com as pesquisas de Edward Jenner, as vacinas passaram a ser semelhantes às atuais. Ao perceber que moradores de áreas rurais que haviam contraído cowpox, uma doença semelhante à varíola, não ficavam doentes com a varíola humana, Jenner fez um experimento e aplicou uma pequena dose de varíola bovina em James Phipps, um menino de oito anos de idade. O garoto ficou doente, mas manifestou uma forma branda da doença. Após sua recuperação, Jenner introduziu na criança o vírus da doença humana em sua forma mais fatal, retirado de uma ordenhadeira. O menino, já imune, não desenvolveu a varíola. A palavra “vacina” vem de “vacca”, justamente pelo contexto histórico.
Reprodução: Bio-Manguinhos/FIOCRUZ
Introdução da vacina no Brasil
Em 1859, Joaquim Manuel de Macedo e Joaquim Norberto de Souza Silva, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, elaboraram um “Parecer sobre a introdução da vacina no Brasil” por ordem do imperador D. Pedro II. Esse documento visava resolver uma disputa sobre quem havia introduzido a vacina no país, atribuindo o mérito ao Marquês de Barbacena, que utilizou a técnica de Jenner. Em contraste, Francisco Mendes Ribeiro de Vasconcelos praticava a inoculação, um método perigoso. A vacina, trazida de Portugal, foi primeiramente aplicada na Bahia.
As políticas de imunização do Brasil são internacionalmente reconhecidas há décadas, com muitas vacinas sendo obrigatórias. A história da vacinação no Brasil está intimamente ligada à vacina contra a varíola, obrigatória para crianças desde 1837 e para adultos desde 1846, embora a lei só tenha sido efetivamente cumprida a partir de 1904, graças ao médico sanitarista Oswaldo Cruz. A obrigatoriedade da vacinação levou à Revolta da Vacina no Rio de Janeiro, resultando em mortos, feridos, prisões e deportações. A percepção mudou em 1908, após um surto violento de varíola.
A Revolta da Vacina
Embora tenha durado apenas cinco dias, a Revolta da Vacina, ocorrida no início de novembro de 1904 no Rio de Janeiro, então capital federal, deixou uma marca significativa na história da saúde pública no Brasil. Este evento resultou em 945 prisões, 110 feridos e 30 mortos, de acordo com o Centro Cultural do Ministério da Saúde. A revolta foi desencadeada por uma lei que tornava obrigatória a vacinação contra a varíola, mas estava inserida em um contexto social e político complexo e polêmico.
Segundo dados do Instituto Oswaldo Cruz, naquele ano, o Rio de Janeiro enfrentava uma epidemia de varíola, além de outras doenças como peste bubônica, tuberculose e febre amarela, o que lhe rendeu o apelido internacional de “túmulo dos estrangeiros”. Em 1904, cerca de 3.500 pessoas morreram de varíola na cidade, e o Hospital São Sebastião registrou 1.800 internações devido à doença.
Como mencionamos anteriormente, a vacina contra a varíola foi criada em 1796 pelo médico Edward Jenner, na Inglaterra. Vimos também que, no Rio de Janeiro, a vacinação contra a doença era obrigatória para crianças desde 1837 e para adultos desde 1846, conforme o Código de Posturas do Município. No entanto, essa exigência não era efetivamente cumprida, devido à baixa produção de vacinas, que só atingiu uma escala comercial em 1884. Além disso, a população não aceitava bem a vacinação, ainda pouco familiarizada com o conceito, e vários boatos circulavam, como o de que quem se vacinasse adquiriria feições bovinas.
Havia muitos outros fatores que aumentavam a tensão na cidade, como explica o historiador e pesquisador Carlos Fidelis da Ponte, do Departamento de Pesquisa em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). O Brasil tinha abolido a escravidão e adotado o regime republicano há menos de quinze anos. Muitos grupos estavam insatisfeitos com as direções políticas e sociais do governo. “Entre eles, os monarquistas que perderam seus títulos, parte do Exército formado por positivistas que não aprovavam a república oligárquica liderada por civis, e ex-escravos que sofriam com a falta de políticas sociais e não conseguiam empregos, vivendo amontoados nos insalubres cortiços da capital”, explica.
Foi nesse contexto que o presidente Rodrigues Alves iniciou um projeto para mudar a imagem do país no exterior, especialmente da capital federal. Junto com o prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, iniciaram uma série de obras para remodelar a cidade. Parte do plano incluía uma campanha de saneamento e combate às doenças, sob responsabilidade do médico Oswaldo Cruz. Nomeado diretor geral de Saúde Pública e formado no Instituto Pasteur, na França, ele conseguiu controlar a febre amarela na cidade em pouco tempo, limpando focos de mosquitos Aedes aegypti e isolando pessoas doentes.
“O projeto de urbanização do governo começou a alargar as ruas da cidade, como havia sido feito em Paris. Boa parte dos cortiços da região central foi destruída, e a população pobre foi removida de suas moradias, iniciando o processo de favelização. Além disso, um novo código de posturas municipais proibiu cães vadios e vacas leiteiras nas ruas, a venda de miúdos e carnes nas bancas, o costume de andar descalço pelo centro, e a passagem de porcos e gado. Isso gerou grande insatisfação na população”, detalha o historiador.
O estopim da Revolta da Vacina foi a aprovação da lei nº 1.261 em 31 de outubro de 1904 e sua regulamentação em 9 de novembro. Sugerida por Oswaldo Cruz, a lei exigia comprovantes de vacinação contra a varíola para matrículas escolares, empregos, viagens e casamentos, prevendo multas para quem resistisse. “A população não aceitava ter a casa invadida para ser vacinada, e havia uma forte discussão sobre o direito do Estado de controlar o corpo dos cidadãos, uma questão que voltou à tona recentemente com a vacinação contra a COVID-19”, lembra Fidelis da Ponte. “Não era apenas ignorância da população, motivada por boatos. Figuras como Ruy Barbosa, um intelectual, fizeram discursos inflamados contra a obrigatoriedade da vacina. É importante entender a novidade que a vacinação representava e os muitos fatores relacionados à revolta”, completa.
Embora os protestos tenham começado por causa da vacinação, logo se estenderam aos serviços públicos em geral e ao governo. A Revolta da Vacina durou cinco dias e, nas ruas da capital, bondes foram atacados, virados e queimados. Os manifestantes também romperam fiações elétricas, levantaram barricadas, derrubaram árvores e apedrejaram carros.
Reprodução: O Globo
A lei que determinava a obrigatoriedade da imunização foi revogada em 16 de novembro, quando também foi decretado o estado de sítio no Rio de Janeiro. Por outro lado, de acordo com o historiador da Casa de Oswaldo Cruz, muitas pessoas foram presas sem relação com a revolta, como malandros e cafetões, em um esforço para transformar o Rio em uma “Paris tropical”.
Para Fidelis da Ponte, a estratégia usada contra a varíola, por meio da vacinação obrigatória, falhou principalmente na comunicação. “Oswaldo Cruz escrevia tratados, artigos de jornal e textos acadêmicos detalhando como a vacina funcionava e seus efeitos positivos. Mas a maioria da população era analfabeta ou semianalfabeta. Os críticos do médico se aproveitaram disso, utilizando charges nos jornais, marchinhas e boatos para ironizar a iniciativa. Essas eram armas poderosas que convenciam o povo”, destaca o historiador.
O resultado foi que, em 1908, uma nova e intensa epidemia de varíola atingiu o Rio de Janeiro, com mais de 6.500 casos, segundo a Casa de Oswaldo Cruz. Foi só então que a população começou a procurar voluntariamente os postos de saúde para se vacinar. Muito esforço ainda seria necessário para que o Brasil erradicasse a varíola em 1971.
O historiador Carlos Fidelis da Ponte defende que a vacina é o melhor instrumento de saúde pública já inventado. Sem os imunizantes, teríamos tido muitas mais mortes por diversas doenças e mais pandemias. Infelizmente, a vacina voltou a ser questionada recentemente e precisamos defendê-la. A vacina é segura e eficaz. A revolta nos ensina que a vacinação não é apenas uma questão médica, mas também sociológica, cultural, antropológica e histórica. Para uma campanha de imunização ser bem-sucedida, é necessário o envolvimento de profissionais de diferentes áreas.
Atualmente, a vacinação no Brasil é coordenada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973 e instituído pela lei 6.259/75. O PNI, um dos maiores programas de vacinação do mundo, distribui gratuitamente 45 imunobiológicos para diferentes faixas etárias através do Sistema Único de Saúde. Graças a suas ações, doenças como poliomielite e varíola foram erradicadas e outras, como sarampo, hepatite, rubéola e tétano, estão sob controle.
Como Podemos Promover a Importância das Vacinas?
Como educadores e educadoras, temos a oportunidade de atuar como agentes de mudança em nossa comunidade. Aqui estão algumas ideias para promover a importância das vacinas:
- Compartilhe com alunos e responsáveis, informações precisas e atualizadas sobre vacinas e sua importância. Incentive a leitura de materiais confiáveis e a participação em campanhas de vacinação.
- Encoraje a vacinação como parte de uma rotina de saúde saudável. Se possível, ofereça informações sobre clínicas de saúde da família, postos de vacinação e eventos de vacinação locais.
- Certifique-se de que suas próprias vacinas estejam em dia. Mostrar que você valoriza a saúde pode inspirar outros a fazer o mesmo.
As vacinas são uma das maiores conquistas da medicina moderna. Elas têm uma história rica e são fundamentais para a nossa saúde. Ao entender e promover a importância das vacinas, estamos ajudando a criar um ambiente escolar mais seguro e saudável.
Atividades pedagógicas sobre a temática da vacinação
Confira, agora, uma lista de materiais que selecionamos para você trabalhar a temática de vacinas em sala de aula. Junte-se a nós nesta jornada científica para compreender como as vacinas não apenas protegem indivíduos, mas também fortalecem comunidades inteiras. Vamos capacitar nossos alunos e alunas com o conhecimento necessário para se tornarem defensores informados da saúde pública!
1) Livro “Jogos didáticos para uma abordagem multidisciplinar do tema ‘Vacinas’ em sala de aula”
2) Sugestão de plano de aula para o 4º ano: importância da vacinação
3) Imunização: um jogo didático para o ensino de imunologia no Ensino Fundamental
4) Atividade sobre a Importância das Vacinas para o 8º e 9º ano
5) Atividades sobre vacinas para o 7º ano
6) Sugestão de plano de aula sobre vacinação e saúde para o 7º ano
7) Sugestão de plano de aula para o 7º ano sobre o tema “Vacinação: um direito e um dever”
8) Sugestão de atividades para sala de aula
9) Artigo com sugestão de material para trabalhar a temática de vacinas e fake news
Saiba mais
https://portal.fiocruz.br/vacinas