O que foi fazer o grande poeta Olavo Bilac no Hospício Nacional?

A arte apresenta uma foto antiga do Hospício Nacional de Alienados, tirada à distância, onde aparece o grande palácio, na parte lateral direita, e outras edificações menores no terreno dos fundos do hospício, além de montanhas e outras construções ao redor. Também, sobreposto, aparece o desenho de um homem de terno, óculos e bigode, de perfil. No canto à esquerda, há duas circunferências nas cores:  vermelha, com o desenho de uma casa no centro; amarela, com o desenho de um livro.
Primeira imagem à esquerda:  Hospício Nacional de Alienados, 1903, Museu da Imagem e do Som. Segunda imagem à direita: GARNIER, M. J. Olavo Bilac. Rio de Janeiro, RJ: F. Briguiet & Cie. Editores, [189-?]. BN digital, (desenho bico de pena).

“Quem hoje atravessa aquelas salas já não tem a impressão de estar atravessando as divisões de um inferno, povoado de gritos estridentes ou lúgubres – mansão de agonia e terror.

Agora, sim! Aquilo é uma casa
de caridade e ciência.” 

(Olavo Bilac, 1905)

Na verdade, além de poeta, o carioca Olavo Bilac (1865-1918) exerceu várias atividades: foi jornalista, cronista, inspetor de ensino, entre outras funções, ao longo da vida. Sua visita ao Hospício Nacional se deu a convite dos doutores Afrânio Peixoto (diretor interino) e Fernandes Figueira (médico-chefe da seção infantil), em 2 de fevereiro de 1905, pouco antes da inauguração da reforma da instituição, em 6 de abril.

Por sinal, sua obra foi incorporada à biblioteca dos enfermos, junto com as de José de Alencar, Castro Alves, Machado de Assim, José Veríssimo, mapas, dicionários e compêndios.

Bilac escreveu uma bela crônica comentando a inauguração e suas boas impressões sobre as mudanças implementadas por Juliano Moreira a partir de 1903, que foi publicada em vários jornais – Gazeta de Notícias, Jornal do Brasil, O Paiz, e Correio do Brasil

O jornalista exaltou, então, o devaneio calmo dos loucos mais furiosos do hospício da Praia Vermelha, libertos das amarras das camisas de força – quem sabe transformadas em fogueira pelo diretor – e do ambiente sujo e opressivo de outrora. Assim escreveu:

“Antigamente não havia, naquele formoso recanto da baía de Guanabara, um hospício; havia uma Casa de Torturas, uma Penitenciária de Loucos. O que ali se inaugurou não foi apenas uma série de melhoramentos materiais; foi também, e principalmente, uma instituição moral que não existia. (…) Quem viu o Hospício, e quem o vê, não o reconhece. O que era uma vergonha, é uma glória. Aquilo já não é o que era: uma casa que não se varria habitada por gente que se não lavava… Mas o que há de mais notável na reforma do hospício é o regime de tratamento. É o que não havia até agora – e é o que me leva a dizer que não houve ali a inauguração de alguns melhoramentos, mas a inauguração de um hospital inteiramente novo. (…)” (1905).

Nesse momento, na imprensa, a exaltação do novo hospital da Praia Vermelha afirmava a positividade da ciência no tratamento da loucura/alienação e na assistência aos doentes mentais, sendo considerado, então, um marco de modernidade e civilização.

Acompanhe a história do hospício em nossos posts de segunda-feira!

Sobre Olavo Bilac:

https://www.academia.org.br/academicos/olavo-bilac/biografia

http://multirio.rio.rj.gov.br/index.php/assista/tv/8388-olavo-bilac

Sobre Juliano Moreira:


https://cenpah.wordpress.com/2010/09/16/juliano-moreira-um-psiquiatra-negro-frente-ao-racismo-cientifico/

http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/morjul.htm

Referências:

Crônicas. Gazeta de Notícias (Olavo Bilac, 1905).

El Hospicio Nacional de Alienados en la prensa de Río de Janeiro, 1903-1911 (Ana T. A. Venancio & J. R. Saiol, 1917).

Registro histórico (Olavo Bilac, in: Ensaios: subjetividade, saúde mental, sociedade, 2000).

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