No Hospício Nacional, a resposta para essa pergunta foi a criação da 4ª. Seção de Moléstias Infectocontagiosas, como medida para isolar os pacientes com doenças contagiosas. Tal medida era justificada pelo discurso bacteriológico: da necessidade de proteger as pessoas não infectadas da ação de “germes nocivos” ou “inimigos invisíveis” – já eram expressões da época.
Quer dizer, no início do século XX, diante de várias doenças endêmicas e epidêmicas que ameaçavam os doentes mentais, levando muitos à morte, a saída foi a construção de enfermarias especiais de isolamento, distantes do grande palácio. Ao mesmo tempo, a instituição atendia à legislação sanitária, que exigia a prática do isolamento e cuidados higiênicos nos hospitais, para evitar a propagação dos germes ameaçadores. Pois é, essa história de isolamento e distanciamento social não é de hoje!
Então, nos fundos do hospício, foram construídos os pavilhões de isolamento, o Pavilhão Jobim (feminino) e o Pavilhão Francisco de Castro (masculino), inaugurados em 1905. Cada um possuía uma entrada central, um gabinete médico, dois salões (cada um com 12 leitos), quartos para os doentes mais graves e enfermeiros, banheiros e rouparia. Em condições normais, os dois pavilhões podiam acomodar até 52 enfermos. Os serviços foram iniciados sob os cuidados do Dr. Miguel Pereira. Quais moléstias o Dr. Pereira atendia nesses espaços? As mais diversas: tuberculose pulmonar, disenteria, enterite, escabiose, beribéri, bronquite, tifo, lepra etc.
Em 1908, por causa do aumento de enfermas com tuberculose pulmonar, a direção inaugurou um pavilhão-varanda para os casos mais avançados da doença, nomeado Pavilhão De Simoni. Inspirado em um sanatório escocês, a nova edificação foi construída e equipada para facilitar a desinfecção, além de conter amplas janelas e varanda, para banhos de sol. Na época, tudo foi feito segundo as regras da boa saúde: bastante asseio, circulação de ar, luz e vegetação abundante.
No mesmo período, a título de emergência, por conta de uma epidemia de varíola que grassou a cidade do Rio de Janeiro e atingiu o hospício, a administração construiu outro pavilhão, batizado de Pavilhão Sigaud, para isolar alguns alienados perigosos, que também foram atingidos pela varíola e não puderam ser transferidos para outros hospitais de isolamento da cidade. Com o fim da epidemia, o Pavilhão Sigaud acabou sendo destinado ao isolamento dos alienados tuberculosos.
Vista como “a praga do pobre”, a tuberculose era tomada como um “mal social” pelo saber médico, associada às condições de miséria em que viviam e trabalhavam os desvalidos da cidade: sem condições básicas de higiene, mal alimentados e a trabalhar horas a fio.
No final do século XIX, a tuberculose já era apontada como de caráter endêmico na cidade do Rio de Janeiro. Comum nos grandes centros urbanos, o médico francês Louis Landouzy (1845-1917) chegou a afirmá-la como uma pandemia, em 1900, no Congresso Internacional de Higiene e Demografia, realizado em Paris.
A vida no isolamento podia durar dias, meses e até anos. Já imaginou!? Como viver isolado em um hospital ou sanatório?
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Referências:
Relatório da Assistência a Alienados apresentado ao Ministro da Justiça e Negócios Interiores, J.J. Seabra (Afrânio Peixoto, 1905).
Notícia sobre a evolução da assistência a alienados no Brasil (Juliano Moreira, 1905).
Quais os melhores meios de assistência aos alienados? (Juliano Moreira, 1909).
O problema da assistência aos insanos tuberculosos (Waldemar de Almeida, 1919).
As pestes do século XX: tuberculose e Aids no Brasil, uma história comparada (Dilene Raimundo do Nascimento, 2005).
Saiba mais:
http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/mostra/asilar.html#nogo