Um bosque na Praia Vermelha!?

A arte apresenta à esquerda a imagem de um documento, escrito à mão, do diretor do Museu Nacional, de 7 de junho de 1909, com a relação de 11 tipos de mudas que podiam ser cedidas para o Hospício Nacional de Alienados, como: jabuticabeiras, jaqueiras, mangueiras, abacateiros, palmeiras etc. Ao lado do documento, meio sobreposta, há uma foto antiga de parte do bairro de Botafogo, do alto, com visão parcial do terreno dos fundos do hospício, com os pavilhões de tuberculosos Alaor Prata, no canto à direita, e do Pavilhão Sigaud, à esquerda, rodeados por árvores. Acima, há a figura de uma circunferência verde, com o desenho de uma flor ao centro e, ao lado, uma vermelha, com o desenho de uma casa no centro.
À esquerda: Imagem do Relatório ao Diretor do Hospício Nacional de Alienados, 1909, Série Saúde, Arquivo Nacional. À direita: O Rio visto do alto, Foto: Tenente Kfuri, Revista Careta (25/05/1929: 21), BN.

Lembra que falamos sobre a criação dos pavilhões especializados no tratamento da tuberculose, nos fundos do terreno do Hospício Nacional? Como indicavam os preceitos científicos da época, os sanatórios para o tratamento da doença deveriam estar imersos na natureza para que os doentes pudessem usufruir os benefícios medicinais da aeração (ventilação) e da helioterapia (dos raios solares). Portanto, a ideia do bosque ia além de um espaço de lazer para os doentes se distraírem.

Assim, Juliano Moreira providenciou a arborização do entorno da área recém-construída. Para isso, o diretor pediu a intercessão do ministro da justiça, junto à Diretoria da Quinta da Boa Vista, ligada ao Museu Nacional, para conseguir 150 mudas de árvores, “em benefício de grande número de enfermos tuberculosos.” Tal negociação resultou no plantio de cerca de 150 mudas, de 22 espécies de árvores – como jabuticabeiras, abacateiros, jaqueiras, mangueiras, jamelões, palmeiras etc.

Alguns anos depois, o Dr. Waldemar de Almeida, um dos médicos do Hospício Nacional de Alienados e estudioso da tuberculose, mencionou a importância do bosque para a terapêutica dos internos tuberculosos, que ficavam fora da enfermaria, à sombra das árvores, durante todo o dia. Para o médico, essa prática contribuía muito para o tratamento e, falando do caso de uma paciente, explicou:

“Os agentes físicos naturais, como o ar, o sol e a luz, tiveram no êxito deste caso clínico um papel bem preponderante, se bem que a terapêutica clínica muito influenciasse os resultados brilhantes observados. E, a propósito, convém salientar o meio especial em que foi colocada a enferma, num local em que a aeração era intensa, ao abrigo dos ventos, a arborização abundante, facilitando, portanto, a ozonização do meio ambiente. Tais são as condições topográficas em que se encontra o “Pavilhão De Simoni”, destinado ao tratamento de tuberculosas no Hospital Nacional de Alienados.” (ALMEIDA, 1915)

Quem testemunhou essa prática foi o escritor Lima Barreto, como ficou registrado no Diário do hospício; o cemitério dos vivos. O que ele estava fazendo no hospício? Aguarde o próximo post!

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Referências:

Diário do hospício; o cemitério dos vivos (Afonso Henrique Lima Barreto, 1993).

Relatório ao Diretor do Hospício Nacional de Alienados (Eusebio de Queiroz Mattoso Maia, 1909).

Resultados terapêuticos n’um caso de confusão mental e tuberculose pulmonar (Waldemar de Almeida, 1915).

O problema da assistência aos insanos tuberculosos (Waldemar de Almeida, 1919). 


Veja:

https://rioquepassou.com.br/2007/12/14/regiao-da-av-lauro-sodre-inicio-da-dec-de-40

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